O filme é uma comédia sobre a Segunda Guerra e que usa certos aspectos dramáticos para ganhar alguma adesão. Não me parece um filme que possa ser aprofundado em termos de reflexão. É bonitinho, às vezes me lembra A Vida é Bela (Itália, 1997), mas com muitos degraus abaixo da obra-prima de Roberto Benigni e, principalmente no final, eu me lembrei de uma cena de Império do Sol (EUA, 1987), mas não posso falar porque esse texto é sem spoillers.

 

O que posso dizer?

 

Honestamente, muito pouco. O começo me fez pensar em Nascido Para Matar (EUA, 1987) com um Sam Rockwell quase reeditando o policial fascista de Três Anúncios Para um Crime tendo a chave invertida para a comédia. A língua é o inglês e a cena é de nazismo americano (sic).

 

 

Aliás, eu já critiquei uma preciosidade do mundo das séries, Chernobyl (EUA, UK, 2019), por ser falada em inglês. Parece-me um absurdo que o inglês se imponha dessa forma. Falado em alemão ou em russo essas obras seriam muito melhores. É preciso muita percepção política e noção de contexto histórico para entender o valor da língua e não de meros sotaques estereotipados. Isso não é um detalhe menor, isso é a jogada toda.

 

Não vejo nada mais forte para corroborar a tese de que “a história é contada pelos vencedores” tanto no caso da série sobre o acidente nuclear na Ucrânia, quanto aqui no filme de Taika Waititi. Contada pelos vencedores e na língua dos vencedores. No caso da série Chernobyl a arma de propaganda é brutal. Em Jojo Rabbit, assim como em A Vida é Bela, os americanos são os heróis libertadores.

 

 

Não faz muito tempo notícias circulavam na internet dando conta do apagamento do papel essencial da URSS na derrota do nazismo. O mundo tem essa dívida com os socialistas, mas sequer reconhece, ainda menos nesse momento de emburrecimento fascista. 

 

Posto abaixo quatro links para que o leitor possa tomar pé do problema em tempos de fake news e manipulação em massa:


1- Como a Europa tenta combater o revisionismo da sua história

2- Novo documentário revela como a URSS venceu Hitler na Segunda Guerra Mundial (VÍDEO)

3- O papel “esquecido” da União Soviética

4- Contra o revisionismo histórico: o pacto de não agressão germano-soviético e a Segunda Guerra Mundial 

 

A abertura de Jojo Rabbit tem seu tanto de enigmática pois vemos cenas da histeria em torno de Hitler ao som dos Beatles, compondo uma mensagem semiótica bastante dúbia, mas curiosa: a idolatria aqui parece ser um problema comum em contextos distintos.

 

 

Cheguei a pensar na série da Amazon Prime The Man in the High Castle, como referência no tema, mas também não me parece suficiente para uma análise, a qual não pretendo fazer aqui até mesmo por falta de tempo. 

 

A noção de banalidade do mal de Hanna Arendt seria talvez mais útil para uma reflexão a respeito, porque poderia nos levar a pensar no fascismo sem nenhum desses extremos estereotipados: nem o fascismo ríspido da série e nem o cômico do filme, e sim numa perspectiva capaz de perceber o problema em situações comuns, em violências naturalizadas nos discursos e que as vezes nos passam despercebidas inclusive e marcadamente nos países que se julgaram libertadores do fascismo.

 

A fotografia límpida do filme me lembrou vagamente alguns filmes de Wes Anderson, talvez pelo enquadramento ou por mera aleatoridade subjetiva.

 

 

Por fim, como último elemento dessa perspectiva propagandista o final apoteótico com clima de vitória sobre o muro de Berlim ao som de David Bowie. É gostoso de se ver, quase ou até mais do que Argo, outro filme que nos coloca em posição de dúvida muito similar acerca da propaganda. Jojo Rabbit é mais aceitável?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sobre o Autor

Não sou cineasta, mas gosto de criticar o trabalho dos outros rsrsrs

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