Por Roberto Blatt

 

 

O UNIVERSO pop está em polvorosa com o filme “Vingadores, Guerra Infinita” da Marvel, e eu sou curioso, fui ver. Efeito manada: milhões de pessoas assistindo deve ter algum mérito. Não tem. É mais do mesmo. 

 

 

Alguns aspectos do filme poderiam ser bem legais, em comparação com outros, mas parece que a Marvel não tem muito interesse em desenvolver personagem. O enredo é aquela coisa de sempre: um vilão buscando superpoderes para implantar um projeto de maldades, ou bondades, na visão dele. É no mínimo curioso que “seres” superpoderosos achem soluções estapafúrdias para os “problemas do universo”. Em todo caso, no trabalho em equipe dos Vingadores o indivíduo tem sempre um papel de destaque, ainda que seja nesse tutti-frutti de heróis. 

 

 

A paleta de cores das primeiras cenas tende para um purple, se não me engano, bem típico daquele 3D feito para enganar trouxa. Mas é coerente com a estética, tipo aquelas réguas que tínhamos na escola simulando alto relevo. A música é particularmente convencional, chega a ser chata, e claro que o famoso “noise” dos filmes de ação tá lá. Parece que não há outro recurso para simular grandiosidades. O autor é o Alan Silvestri, um cara que já fez muitos filmes e não posso julgar o seu mérito geral, mas nesse caso é, repito, mais-do-mesmo musicalmente.

 

 

O efeito 3D aliás cai muito bem para cenas no espaço. Percebi em Star Wars que a tecnologia é bem-vinda nessas ocasiões e em Guerra Infinita ela quase chega a convencer nos destroços de uma batalha no espaço sideral. Aliás, a participação dos Guardiões da Galáxia é ambientada em cenários que me lembraram a saga dos Jedi… Mas as semelhanças param por aí. E de fato essa tecnologia parece ser uma alteração completa da imagética de quadrinho, suporte original das histórias desses heróis.

 

 

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A fotografia obviamente é forte, e suponho que os melhores equipamentos tenham sido usados nesse filme para alcançar esse efeito de imagem poderosa, o que inegavelmente tem seu valor como diversão. Valeria a pena, para os interessados, fazer uma análise da simbologia das cores das pedras, pois na busca de cada uma delas, em cada fase do roteiro, o tom de colorização predominante parece corresponder à cor da pedra buscada.

 

 

O enredo, aliás, pode ser resumido numa longa batalha por essas pedras superpoderosas e [SPOILER] o vilão Thanos obtém um sucesso relativo na sua empreitada. Relativo porque o filme quer fazê-lo parecer um personagem complexo, um vilão com perdas e alguma tristeza. Não convence e é bastante previsível, notadamente na cena em que vai sacrificar a própria filha adotiva. Vamos pensar hipoteticamente: talvez eu deva consentir que esse “Édipo invertido” foi um projeto deliberado, o que seria uma forma de complexificar o malvadão: ele projetou amar uma criança que sabia que seria sacrificada, ou seja, ele planejou ferir sua própria alma através do amor. Mas isso sou eu conjecturando, porque o enredo não mostra essa onisciência do personagem. De qualquer modo é um dos momentos minimamente interessantes do filme, apesar da imensa previsibilidade do movimento.

 

 

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O alívio cômico de algumas piadas é completamente esquecível, como os comentários na nave dos Guardiões da Galáxia, ou Okoe perguntando porque a Bruxa não estava na batalha desde o começo. Bobagens. A exceção é a hilária negativa de Hulk de voltar a lutar, parecendo uma fera ferida e isso soa engraçado dado o contexto.

 

 

Por último Guerra Infinita não sabe matar personagens e, nesse sentido, é pior do que Game of Thrones depois que virou fanfic, ou mesmo The Walking Dead. A única morte minimamente interessante é a de Loki e mesmo assim poderia ser muito mais chocante. Até mesmo a despedida do garoto Aranha foi superficial. Sobre isso, aliás, eu ouvi de alguns críticos que o público ficou em silêncio nesse momento, o que, segundo eles indica o respeito pela cena. Ora, o público ficou em silêncio o tempo todo nesse filme – até pela imposição do volume da música – e é isso o que me intriga: por que as pessoas gostam dessa pancadaria de espantalhos?

 

 

Digo espantalhos, porque as lutas banalizam a violência, tornam-na quase uma batalha de travesseiros. Nenhum desses heróis que morreram está definitivamente morto. Nem mesmo temos certeza de que os leftovers (referência talvez um pouquinho plagiada da excelente série da HBO), aquela metade da população do Universo que é exterminada por Thanos, num literal estalar de dedos, está morta irreversivelmente, que é a definição de morte. Talvez essa segurança seja o aconchego que as plateias busquem: diante da completa consciência da finitude do real somente o mundo fictício de heróis imortais acalma a ansiedade. De outro lado, os soldados, os cães “do mal”, da luta em Wakanda, são eles próprios quase germes, passa-se álcool por cima e pronto. É uma espécie de luta de humanos contra zumbis no melhor estilo Senhor dos Anéis.

 

 

Julgo tudo isso como superficial ainda que oriundo de um filme de heróis. Há uma infantilização do público que é importante para o silêncio exigido, para a atenção à esses filmes idiotas, que parece essencial para esse tipo de obra ao mesmo tempo que a alimenta. Talvez a contribuição que eles oferecem para uma cultura individualista e meritocrática seja seu grande movimento sub-reptício: sua grande hipnose capitalista. Todo o projeto de Thanos, aliás, depende de salvar a vida individual. E mesmo que seja, como nesse caso, um sucesso maléfico, é esse o caminho, porque claro, num futuro teleológico o capitalismo – sic – digo os heróis irão reverter tudo aquilo.

 

 

Digo tudo isso diante da perplexidade que essa pergunta me produz: por que faz tanto sucesso esse tipo de filme? Ele parece uma obra gritada para gente semi-dormente acordar e focar a atenção. Mas aí foca-se no que? Em nada, é um UFC infinito entre sparrings imortais. 

 

 

Nota: 6,0/10,0 pela diversão.

 

 

Iron Man 3
Tony Stark/Iron Man (Robert Downey Jr.)
Film Frame
©Marvel Studios 2013

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Sobre o Autor

Não sou cineasta, mas gosto de criticar o trabalho dos outros rsrsrs

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