Ontem assisti A SUBSTÂNCIA. Filme loco doidão crazy full. Mas que funciona, prende a atenção, até certo ponto.
Vale o tempo de 2h20, apesar de certos trechos bastante previsíveis como constatado no desfecho: há um ponto do filme em que já se sabe no que aquilo tudo vai dar e esse ponto pra mim é muito cedo.
E talvez seja essa mesma a ideia didática – didatismo que é a parte desinteressante aqui – propondo uma espécie de “crônica de uma morte inevitável” da beleza e do glamour à que todos estão sujeitos.
O estilo do filme é uma mistura que me lembra Réquiem para um Sonho (EUA, 2000), Traisnpoting (Reino Unido, 1996) e umas pegadas de Laranja Mecânica (EUA, 1971) tendo ainda uns takes que me remetem a O Iluminado (EUA, 1980). Ser pastiche de tudo isso não é tão fácil 🤣🤣, embora talvez ajude; e à tudo isso acresce uma ideia razoavelmente singular, que fica entre A Mosca (EUA, 1996) e The Morning Show (série, EUA, 2019).
A “metáfora”, se é que se pode usar esse termo, é direta com a questão da indústria da beleza e a exploração feminina nesse tema. Achei excessivamente didático em alguns pontos, o que enche o saco. Dizer uma coisa muito na cara do espectador e não contente repetir e repetir de novo. Assista e repare que tem lá esse tipo de cena. A gente já tinha entendido na primeira – sic.
Até o criminoso o Harvey Weinstein está caricaturalmente – até demais – retratado. Não duvido que Demi Moore vá para o Oscar, inclusive porquê não raras vezes o prêmio de melhor ator é dado para maquiagem, como foram vários casos recentes. Mas ela mandou muito bem aqui. A nudez da mulher envelhecida é mais interessante que quase tudo nesse filme.
Há um ponto do filme em que tudo parece definido, e está. A gente percebe onde tudo aquilo vai parar e isso é relativamente cedo e chato, o que me incomoda muito, como espectador que quer ver algo interessante e diferente. Além disso a caricatura da indústria da beleza é sacal e até certo ponto burra: homens velhos brancos retratados como vilões. Na realidade não é necessariamente esse o estereótipo do explorador capitalista do padrão de beleza.
Outro ponto é o tal padrão estético feminino, aliás, muito rapidamente assumido pela jovem atriz Margareth Qualey; dado o enredo é compreensível, mas não deixa de ser incômodo esse mais do mesmo. A indústria é muito mais horizontalizada do que isso e a “ideologia da beleza” é um ramo gigantesco e cumpliciado com o consumidor.
Chateia bastante a emulação da saturada exposição sexualizada. Se a exposição original – em todas as telas marketeiras a que estamos expostos diariamente – já é cansativa, a parte em que o filme insiste nisso também cansa, a não ser talvez para um onanista estimulado. Quase se transforma no “clássico” clip de Dougal Wilson para a música de Benny Benassi:
Apesar de tudo recomendo, A Substância se salva, mesmo com certo clima pastelão, meio que inevitável, consegue impor uma reflexão sobre o tema.