No fundo é um filme sobre um drama de um branco e essa abertura é para mostrar como o europeu era corajoso e bondoso: iniciar um contato com a música angelical do oboé é quase uma demonstração de “diplomacia telúrica”. Aliás, a música de Morricone no filme inteiro é sensacional, e é eurocêntrica, no sentido tonal que o José Miguel Wisnik fala em seu livro, o som e o sentido, por oposição ao som modal de povos fora do eixo ocidental.
Usei esse trecho do filme em sala de aula para indicar uma noção de contraste cultural, de religiosidades distintas. Usei também comparando-o com o consagrado curta “Aldeia” (Brasil, 2000) para pensar gêneros: no filme de Roland Jofé temos um suspense, prenúncio de um drama, inclusive com cenas anteriores ainda mais dramáticas de “martírio” cristão, o próprio enfrentamento da fé, quando os índios amarram um padre em uma cruz de madeira e o deixam boiando na água, à deriva no Rio Iguaçu até as cataratas, como quem diz: ” – veja se teu deus te salva da morte na vertiginosa “Garganta do Diabo“, na época sem os mesmos problemas ecológicos de vazante que enfrentamos no Paraná em 2021.
Por outro lado no divertido curta de Geraldo Pioli temos uma “estória” mais leve e que caracteriza uma “comédia histórica”. Assim, ao mesmo tempo em que abordamos a religiosidade indígena aprendendo como num espelho sobre a nossa própria, também podemos pensar acerca da noção de gêneros cinematográficos e suas sutis formas de manipular e expor um debate. ]
Link do trecho no YouTube de A MISSÃO:
Link do filme ALDEIA:
P.s.:
Salve amigos! Depois de muito tempo e com tantas aulas para ministrar consegui espacinho para escrever muito superficialmente sobre dois filmes: A Missão (1986) e Aldeia (2000). É um texto curto e escrevi porque upei um trecho do filme de 86 no YouTube. Eu estava usando para aulas de ensino religioso, porém a qualidade do vídeo no youtube era muito ruim, e esse que upei a partir de torrent do Fórum Making Off está muito melhor. O outro filme, Aldeia, infelizmente eu nunca encontrei com boa qualidade, porém, como se trata de um estória com um belo componente discursivo a precariedade da imagem não prejudica a compreensão da ideia. No artigo tem os links do YouTube para ambos e eu tenho os filmes no meu gdrive se alguém quiser. Leiam quando quiserem um pequeno e pretensioso “passatempo etnográfico”. Abraços