O site
UOL publicou uma lista de filmes que são fortes candidatos ao prêmio da academia esse ano.
Assisti alguns deles e com exceções negativas, caso de Os 7 de Chicago que é meio besta, embora tenha um contexto importante, estão todos nivelados, digamos assim. Não há um nenhum destaque gigante, como foi Roma, por exemplo, absurdamente injustiçado. Destaque inicial para Mank de David Fincher, um espetáculo visual de respeito, assim como foi
1917 de Sam Mendes, que é mais filme que Parasita, como linguagem audiovisual e não como discurso puro. Então dos poucos que vi esse ano minha análise geral é essa:
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NomadLand a minha expectativa era alta e daí o filme passou por fraco, inclusive acho que sub repticiamente é favorável à segurança do sedentarismo e das corporações além de desenvolver pouco o aspecto existencial, mas precisaria de muito rebolado pra defender essa tese;
Os 7 de Chicago é quase uma comédia que não se assume como tal, ainda que seu assunto/tema seja importante, um filme bem chatinho, pra mim, do ponto de vista narrativo;
Mank é um filme sobre os filmes, me faz pensar na tese do filósofo Thomas Elsaesser: Cinema como arqueologia das mídias, ainda que seja muito chato a emulação forçada o tempo todo, com direito à mancha queimada de película repetidas vezes, mesmo assim é um filmão clássico, inclusive na musicalidade, na fotografia imponente, tem a melhor de atuação de Gary Oldman (oscar de ator não deveria ser de maquiagem e agora sim ele merece) entre outras qualidades, a denúncia dos fake news da época e do sentimento estúpido de anti-esquerda, apesar do didatismo com que aparece, a reflexão sobre o próprio artefato tecnológico, sobre suspensão da descrença e a força da mídia, tudo somado é quase um Cidadão Kane 2;
Uma Noite em Miami é um belo filme, escrevi um artigo específico sobre ele aqui no
blog, é um filme digno, também um pouco sentimental demais, mas bom;
Sound of Metal é o meu preferido, e não tem muita defesa objetiva, é o meu sentimento: a questão da “deficiência”, a indústria da arte, mas tudo isso é pano de fundo, porque o essencial pra mim é o sentimento de comunidade que ele “insinua” em meio à própria realidade de isolamento que nos conecta ao personagem. Um adendo aqui … P.s.: até o momento esse é, pra mim, melhor filme também porque fala sobre uma pessoa com deficiência, tem uma mensagem sobre isso, bastante sutil e interessante, e inclusive sobre uma deficiência pouco mencionada, a surdez. O meu comentário não foca especificamente nisso, até porque minha visão é de que o filme consegue uma ubiquidade do humano, isto é, um dado aspecto, contingência ou característica do personagem dependendo de como cada um pensa a deficiência não é, no filme, um aspecto totalmente fechado e determinante. Quero dizer o filme fala dessa singularidade mas é bem sucedido porque é um “aspecto” humano que bem poderia ser qualquer outra dificuldade pela qual um personagem passa e com o mesmo resultado dramático. Sugira com veemência que você vá ver o filme, pois é uma pequena experiência do sublime.
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Estou escrevendo porque me chamou atenção um comentário estúpido no artigo do UOL falando que os filmes hoje obedecem a lógica de cotas e por isso uma obra com temática progressista, da causa preta ou de mulheres, tem chances grandes de ganhar. Ora, uma breve olhada nas edições anteriores do Oscar mostra que 90% de suas premiações são cotas de classismo, racismo, machismo, donzelices ou tosqueras e etc.
No meu modo de ver um filme reacionário pode ser bom e um progressista pode ser péssimo, mas isso não invalida que a gente deva ter uma produção diversificada e não somente determinada pelo dinheiro, como é o caso de quase tudo que vem de Hollywood. E isso tem que ser regulado sim, tem que ser imposto sim, porque se você simplesmente joga ao vento o que virá serão filmes que passam por um “darwinismo” do dinheiro e do preconceito.
O filme que mais gostei foi Sound of Metal – como já disse pelo sentimento de comunidade que me desperta em meio à questão do isolamento (qualquer semelhança é …), mas talvez tecnicamente Mank envolva mais recursos e NomadLand tem aquela linda fotografia. Até o momento, a melhor diretora, no meu sentimento, é Regina King, de Uma Noite em Miami, e falo pelo filme, porque isso é o que me ocorreu, mas pode ser que ela não ganhe e que se dane o Oscar. Era isso, amiguinhos! Flw vlw.
