Para ler ouvindo:

 

Assistir a série Them (EUA, 2021) criada por Little Marvin e produzida por Lena Waithe, exige uma boa dose de esforço por parte do espectador.

 

 

O primeiro episodio é excelente, mas com o passar do tempo a série entra num loop de tortura racista que parece previsível e infindável. Talvez a intenção dos produtores tenha sido justamente essa: fazer-nos perceber a dor desmedida do trauma racista nos EUA. Se for, posso dizer que conseguiu. Eu não consigo assistir alguns desses episódios, acho demais, e falo isso não qualitativamente, mas pela quantidade. Soa clichê esse loop de tortura pois assistindo a gente meio que prevê que a série vai entrar nesse círculo de tortura histórica sobre outras torturas históricas.

 

Existe muito valor na série, sim, por demonstrar o cemitério sobre o qual se erguem determinados condomínios da classe média branca estadunidense. Mas eu acabei por me desinteressar de muitos episódios em que percebi que a intenção era repisar o tema, quase como que uma fonte de dor que não para de jorrar.

 

Me perguntava sobre o limiar entre sentir dor, sobre comunicar ou representar dor e sobre fazer sentir dor. Confesso que não sei definir esses limites em “Them”, porém, eu admiti meu limite pessoal com essa série: em dado momento ela torna-se enfadonha. Notadamente o excesso de metáforas é uma coisa irritante e, repito, pra mim, tola.

 

Enfim, no primeiro episódio as coisas são muito promissoras: fotografia excelente, direção de arte excelentes, ainda que resvale para uma leve decadência ao parecer aqueles vídeos do youtube colorindo gravações antigas de metrópoles como Los Angeles, entre outras.

 

 

A primeira impressão que tive de “Them” situava-a entre “Nós”, o aclamado filme de Jordan Peele, de um lado, e as excelentes primeiras temporadas de American Horror Story, de outro. E isso tudo com uma boa dose de singularidade. Em meio à toda aquela série de jumpscares posso dizer que alguns são excelentes mas outros já caem no principal problema da série: a excessiva repetição … é que quando você sabe que será assustado parece que você se previne, é como ficar sabendo de festa surpresa, com as devidas proporções …

 

Divido a série em duas partes: o capítulo 1, excelente e muito acima da média, junto com os episódios 2, 3 e 4, são o que chamo de Primeira Sessão de tortura; a Segunda vai do 6 ao 10; entre essas duas aparece espaço para denúncias muito explícitas acerca da lucro obtido pelas imobiliárias com o racismo no episódio 5. Isso mesmo que você leu: imobiliárias estadunidenses lucraram e MUITO com o racismo. Ponto pra série.

 

 

Por fim, vale a pena mencionar que Compton, a cidade em que a série se desenvolve, tornou-se epicentro de muitos confrontos violentos ao longo da história chegando a liderar os índices de homicídios nos EUA. Se olharmos um pouquinho para o passado de exclusão racista talvez essa violência adquira outro significado.

 

Se você for ver, vá preparado.

 

 

 

Sobre o Autor

Não sou cineasta, mas gosto de criticar o trabalho dos outros rsrsrs

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