ASSISTI ontem ao filme sensação do momento “Um Lugar Silencioso” (EUA, 2018) e … adivinha? Achei fraquinho. Enfim, o papel canônico do crítico é fazer uma análise, que seria pré-requisito para uma crítica; cá entre nós, esse filme não vale a análise. Mesmo assim, com meus parcos recursos vou tentar.
O que caracteriza um filme de terror? Basicamente, no caso de filmes comuns, o medo e o susto. Os meios para se obter esses efeitos podem variar, mas, via de regra são um momento de suspense e um salto de susto ou esse mesmo salto sem suspense nenhum, o que ocorre para pegar o espectador desprevenido. O filme tambem pode ir pelo caminho de criar um suspense constante e assim fazer com que o espectador mesmo crie a expectativa necessária para se “horrorizar”. Nesse caso o espectador pensa assim “virá um perigo a qualquer momento”; é como se essa expectativa aumentasse a sensação de horror e medo. Em qual desses esquemas “Um Lugar Silencioso” se encaixa?
Responder à essa questão já me faz pensar que trata-se de um filme comum, ou seja, não tem nada de diferente com exceção de poucas vozes ouvidas, substituídas pela linguagem de sinais. Na verdade nos momentos de terror de um filme de terror comum os diálogos não são o ponto forte. Qualquer exemplo comprova isso e, de “Psicose” à “Sexta-Feira 13”, vemos cenas de horror com tudo, menos diálogos. Nesse sentido o filme é um clichê de 90 min, que, apesar do mote silencioso abusa do som diegético.
Filmes cujos diálogos produzem o terror são dramaturgicamente muito superiores. Vide a icônica conversa em “O Sexto Sentido” … “eu vejo gente morta” ou mesmo em outros exemplos do próprio Shyamalan, como “A Visita”. Em geral os filmes de terror comuns utilizam justamente os elementos de que “Um Lugar Silencioso” faz pastiche: sons, ruídos, cenas. O silêncio constante intensifica qualquer susto, mas também previne o espectador, o que torna limitado o sustinho que se vai tomar.
Talvez as partes significativamente horrendas do filme sejam aquelas de dores lancinantes e a impossibilidade de gritar. Todo mundo sente dor e sabe como é importante chorar ou gritar nessas ocasiões; se você está impedido de fazer isso cria-se um sufoco forte; nesse ponto o filme é bem sucedido. Ao menos em parte, porque padece do “excesso didático” de nos preparar demais, previsivelmente para essas situações, como acontece na cena em que a personagem pisa num prego.
A distopia é inexplicada e inverosímel, o que obviamente vai depender de o espectador aceitar que os personagens passeiem bucolicamente durante o dia sem ser incomodados por criaturas que são guiadas apenas pelo barulho. É muita tranquilidade em certos momentos. No final do filme ainda temos uma cena que parece plágio de Black Mirror, não que isso seja completamente negativo, até porque, ao contrário da série o filme tem um que dê … [spoiler] … final bem sucedido.
Nota: 6,5/10 diversão mediana.