Por Roberto Blatt

 

Genial a ideia da série “Cobra Kai“, do Youtube Red, que é uma continuação “pastiche” do filme original Karatê Kid (EUA, 1984). 

 

Barney Stinson tinha razão: o verdadeiro Karatê Kid era Johny Lawrance, o personagem de Willian Zabka. A piada aparece no episódio 22 da oitava temporada de How I Meet Your Mother e nela o excêntrico Barney faz uma calorosa defesa de Willian Zabka como o verdadeiro (anti?) herói do clássico filme adolescente dos anos 80. O mais curioso é que Zabka afirma que Barney é a única pessoa no mundo a defendê-lo. É fascinante pensar nisso e somente aqueles que viveram essa adolescência podem compreender o grau de historicidade envolvida nessa brincadeira do Youtube Red. O canal, aliás, inaugurou seu serviço com uma estréia de tirar o chapéu. 

 

Quando falo em historicidade, me refiro ao seguinte: passei a minha vida inteira convencido de que Johny Lawrance era um vilão, praticante de bullying, entre outras coisas, o típico valentão da escola. Nunca comemorei tanto um golpe de luta como aquele em que Daniel Larusso nocauteia seu adversário. É o ápice de uma superação, de uma volta por cima daquele garoto tão humilhado. Até hoje se assistir ao filme a retórica daquela cena me deixa emocionado, com aquele calorzinho no coração, aquele “isso, vai Daniel“…

 

Mas eis que o tempo passa e Cobra Kai nos mostra onde foram parar os dois lutadores: o vencedor, Larusso, tornou-se um rico empresário, quase um yuppie. Eu disse quase, porque a série não leva a fundo essa ideia, o que daria contornos muito mais dramáticos e uma inversão poderosa do maniqueísmo inicial. Não é para tanto, é uma série de comédia, embora os enquadramentos, a fotografia, a edição, tudo seja digno de alguns dos melhores dramas da atualidade… Enfim, o personagem de Larusso evoluiu para um fariseu bonachão. Não haveria tanta crítica à meritocracia numa série do Google, não é mesmo? Ponto fraco da série, mas dá pra aguentar. O derrotado, Johny é um “loser” do darwinismo social americano. Aquele chute acabou com suas ambições, agora tornou-se um alcoólatra, um divorciado, um pai ausente e um desempregado. Claro, é tudo isso, mas é americano e branco, não é mesmo? Até o desemprego americano é glamourizado, porém isso é assunto para outro artigo.

 

O reencontro entre os dois é um dos pontos altos do primeiro episódio: Johny não quer rever Daniel, ele sente vergonha de sua pobreza e de ser obrigado a receber favores daquele que derrotou-o de forma tão enfática. Sentimos o constrangimento junto com ele, somos levados a ter uma enorme compaixão pela sequência de desastres da vida do derrotado, e logo estamos torcendo por ele, mesmo que o “Sensei” seja um ser anacrônico, quase uma piada daquelas de mau gosto que, hoje em dia, não fazemos mais, e por boas razões. Ainda assim, politicamente incorreto, nós, agora 30 anos mais velhos, torcemos por ele e comemoramos cada pequena vitória que obtém. Hoje é para ele que dizemos “isso, vai Johny“!

 

De certa forma Barney tinha razão. É a hora da verdade.

 

 

 

P.s.: Assisti a série completa, ela mantem o mesmo ritmo do filme, uma dramédia light, agradável. Brinca um pouco mas com o maniqueísmo e promete uma segunda temporada de trapalhadas. 

A entrada em cena de personagens icônicos dos filmes originais geralmente é muito poderosa. Foi assim, com a impressionante participação de Luke Skywalker em Os Últimos Jedi, e aqui a “entrada” em cena do Sr. Miyagi é igualmente esplendorosa, num enquadramento maravilhoso, uma fotografia linda e a mesma tristeza nostálgica do filme original, de alguns momentos que vemos em filmes como Rocky, o Lutador, entre outros. Confira abaixo os frames que selecionei.

 

 

 

 

 

Aqui a Cena em que Barney faz sua defesa de Johny Lawrance.

 

 

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Sobre o Autor

Não sou cineasta, mas gosto de criticar o trabalho dos outros rsrsrs

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