Swingueira (Brasil, 2020) é um documentário de Bruno Xavier, Roger Pires, Yargo Gurjão e Felipe de Paula. Acredito ser o primeiro filme que assisto desses rapazes. Assisti agora pouco na consagrada Mostra de Cinema de Tiradentes, na 24ª edição.
O filme tem aquela dinâmica tpica de docs leves, uma opção mais fácil para entreter e informar. É uma obra importante em muitos momentos, pela cultura retratada, por aspectos da realidade social que denuncia e mesmo pelo espetáculo que insinua. Por vezes cheguei a pensar que a Swingera, como festival da periferia nordestina, é como o Carnaval do Rio: você tem que ir lá e ver ao vivo pra curtir. Não que seja tão cafona quanto as transmissões da Sapucaí, longe disso, mas é difícil transmitir uma atmosfera que parece exigir que teu corpo esteja lá percebendo as coisas.
Quem já foi no carnaval sabe que existe uma espécie de percepção ubíqua do entorno que é bacana e que atrai as pessoas, embora pra mim seja um pouco tedioso por vezes. Meu corpo não é bom para dança, minha vida é orientada por muita autonomia de pensamento e, às vezes, aglomerações me soam rebanho, próximo, num certo sentido, da maneira como Nietzsche entende rebanho. Mas isso vai de cada um, eu me divirto muito em grupos pequenos, e mesmo de forma solipsista.
Aliás, fiquei pensando duas coisas a partir desse filme: Nietzsche fala um pouco sobre a dança, mas não me recordo bem onde, em todo caso, penso nessa arte a partir, novamente, dessa filosofia. Imagine como seríamos vistos por seres alienígenas incapazes de sensibilidade para a música e assim é possível ter uma ideia da questão. Em todo caso o ritmo frenético da swingera me fez pensar numa espécie de ansiedade. Porque o ser humano precisa dançar é uma pergunta bem geral. Porque precisa daquela intensidade é outra. Talvez seja meramente carnal. Os movimentos abstratos da dança “culta”, o ballet, por exemplo, são tão enigmáticos quanto. Enfim, são formas de expressão e me vejo obrigado a aceitar.
Eu como pessoa considerada deficiente tenho imensa dificuldade de achar belo um movimento que não consigo realizar. Sério mesmo, não consigo, deve ser um egocentrismo, mas paciência. Eventualmente acho bonito, como boa parte dos humanos normais que vem graça no uniforme, no simétrico. Mas eu sou torto No esporte, por exemplo, vejo um movimento habilidoso e encaro como uma dança, embora seja mais objetivo mecanicamente, porque visa um “resultado” digamos assim.
Concursos de dança parecem perseguir lógica similar, completar movimentos quase como quem almeja um gol, e nesse sentido do ensaio como repetição exaustiva eu sempre me pergunto se não torna as coisas um pouco maquínicas. É um pensamento sobre espontaneidade, do corpo também, não de algo decorado, mas improvisado. Deixa pra lá. Os grupos retratados no filme, aliás, me lembram muito equipes de futebol aí incluso os sonhos de jovens atletas de terem vidas melhores.
A segunda coisa que pensei, a princípio me pareceu desconexa da primeira, e foi o seguinte: por que diabos os jovens seguem esse caminho tão tradicional de se enamorar, engravidar e ter filhos? Tudo me parece muito difícil, sou schopenhaueriano, vejo o mundo como sofrimento, e nesse contexto crianças pobres sofrem ainda mais. Não que elas não possam encarar a parada, na verdade algumas até que se saem bem, mas não entendo esse clichê de a que a vida deve ser namorar, casar e ter filhos.
Ora, é claro que os pobres devem ter direitos reprodutivos mas me parece que esse caminho é meio animal e digo com respeito ao animal, mas o ser humano não é um procriador. Imagino que esse discurso pode ser chocante para alguns, porém, ressalto que não se trata de uma questão de classe, porque inclusive sou contra o direito hereditário notadamente para ricos.
É isso, desejo que as comunidades tenham educação, informação, cultura e arte. Ou que possam simplesmente existir.
VOCÊ pode assistir Swingueira até dia 30/jan no link abaixo.