A série de Mark Ruffalo lançada em 2020 na HBO é uma das poucas coisas minimamente interessantes entre seriados desse período. Não me preocupo com a distinção entre série e mini-série que é onde se encaixa a obra e já adianto que a partir do episódio 5 e 6, na minha percepção, ocorre uma queda forte do interesse narrativo.
Essa série tem muitas coisas bacanas, uma delas é o modelo meio clássico de inserir trilha sonora que eu não via há tempos, ao menos dentro de um conjunto de audiovisual qualificado. As músicas quase que interagem com o espectador dentro dessa gramática consagrada. Além disso, são inseridas num contexto de narração off e fotografia que por vezes me fez pensar numa série bem bobinha, mas agradável, Anos Incríveis. A comparação, ressalto, é completamente limitada à certas passagens da excelente fotografia e mesmo da musicalidade.
I Know This Much is True é muito centrada nas atuações, o enquadramento busca o rosto dos atores, todos eles, o tempo todo. São interpretações magistrais até demais em alguns casos, mas com mérito. A abertura é bastante forte, porém, cede muito rápido para certas soluções extremas, o que talvez não pudesse ser diferente considerando o tempo, ainda que cada um de seus 6 episódios tenham uma hora de duração. Mas sei lá, soa estranho que o irmão concorde, e tudo o que ele cede na cena da amputação no hospital.
O enredo é bem executado até pelo menos o episódio 4, embora antes dele já peque em pelo menos dois pontos: uma certa melosidade do romance estudantil e um exagero no sofrimento do protagonista. Na ficção quando se sofre o tempo todo é como se não houvesse sofrimento, mas sim uma espécie de normalização da dor.
Percebi um momento quase cômico no episódio 5 e não tive certeza se era intencional ou derrapada. As soluções edificantes, com que a série se conclui rapidamente, acabam por simplificar personagens, terapias, e sistemas. Essa é a minha impressão. Ainda assim, me lembrou um filme com pegada parecida em termos de tragédia, O Diabo de Cada Dia (Netflix, EUA, 2020) e que tem força. No caso de I Know This Much Is True é a força da tristeza.
