A pergunta-título é apenas um ponto de partida. Não pretendo aqui aprofundar a tese, para a qual tenho parcos argumentos. Mas, vejamos.

 

Ford vs Ferrari (EUA, 2019) é dirigido por James Mangold que também é o realizador do ótimo Logan (EUA, 2017). Não notei nenhum paralelo específico entre essas duas obras, mas confesso que gosto dos filmes que classifico como hollywoodianos divertidos.

 

A última obra interessante que vi contendo as famigeradas perseguições de automóveis – sic – foi Baby Driver (EUA, 2017) cuja perspectiva é uma estilização moderna desse “plot”. No caso de Ford vs Ferrari a única aproximação possível com o filme de Edgar Wright talvez seja a exploração de uma bela trilha sonora que parece impulsionar teluricamente certas cenas em ambos. Excelentes em nos dois filmes. 

 

Nesse link você pode ouvir as músicas que compõem a trilha excepcional e o excelente design de som do filme:
Trilha-sonora-FORDvsFERRARI!

ou no Spotify

Trilha-sonora-FORDvsFERRARI-spotify

 

Se você tiver 5 minutos assista o clip abaixo do filme Baby Driver, obra-prima no quesito música-imagem em cena de perseguição de carros.

 

A abertura me fez pensar em Tarantino por vários motivos, mas o principal deles é a cena que “aproxima-se” daquela em que Brad Pitt dirige em alta velocidade pelas ruas de LA. Além dessa semelhança, talvez circunstancial, também tive a impressão de que o período histórico é retratado de maneira caricatural. 

 

Os dois protagonistas bem poderiam ter participado de Bastardos Inglórios (EUA, 2009): um texano, o piloto e designer de carros Carroll Shelby, interpretado por Matt Damon, e o protótipo do piloto ousado Ken Milles, outro feito magistral na carreira de Christian Bale.

 

Insinuações de geopolítica da indústria da guerra, cenas cômicas, estereótipos do vilão italiano, a malandragem texana contra os “spaghetti” são outras caraterísticas que talvez possam engrossar meu argumento, sem muito sucesso.

 

Um coadjuvante que pareceria ser importante é abandonado na metade do filme, outro personagem passa a ser o anti-herói, há uma certa dificuldade de retratar com realismo uma situação que, na realidade talvez seja mais impessoal do que um conto de fadas as vezes exige. Estou me referindo aqui aos conflitos entre os pilotos-operários e os chefes-burocratas. Tudo sempre é pessoal, mas não necessariamente uma pessoalidade tão carnal quanto os ódios super rápidos do filme. 

 

O filme também poderia ter sido mais realista mesmo nas cenas de ação, e menos estereotipado, notadamente, com os vilões. Ele decai para sessão da tarde nesses quesitos. Bale salva, mas nem tanto. Mas no geral gosto muito da fotografia, ou como prefiro chamar da cinematografia.

 

Cena de abertura que acho linda.

 

A aura de piloto aventureiro está de volta, e mesmo toda a tragédia eventualmente envolvida nessas vidas de “playboys”. Tenho a impressão de que o automobilismo no Brasil passou-se como um filme que vai da euforia ao horror, se pensarmos na morte de Senna, o último piloto brasileiro de destaque.

 

Ken Milles eu diria que era mistura da ousadia de Nigel Mansell, a perspicácia e a habilidade de Senna, a extravagância rústica de Nelson Piquet com a elegância de Alan Prost. Junte tudo isso e você tem o personagem. Cito pilotos da única categoria que acompanhei, portanto, ignoro outros, quem sabe até melhores.

 

São apenas elucubrações. A essas alturas a aproximação que propus no título desse artigo já foi por água abaixo… sim, porque há pitadas de drama e mesmo de diálogos com o inefável que eu nunca vi nos filmes de Tarantino. Aliás essas conversas sobre o inefável de ter sob si uma máquina com 7200 rpm me soaram repetitivas. Essa espécie de simbiose homem-máquina levemente insinuada parece baseada apenas numa apologia da adrenalina. Correr a 200Km p/h?? Legal. Ponto.

 

 

O inefável me parece um aspecto do filme usado retoricamente, explorado de forma exaustiva. Mas funciona como bom pretexto, para o ponto central, mais humilde inclusive: tenho a impressão de que o filme de Mangold é sobre amizades, afinal!

 

Um velho magnata chora ao sentir a adrenalina das máquinas que produz. Um menino sonha com as pistas. Dois homens tratam-se com a sinceridade das verdadeiras amizades. Há alguma beleza nessa masculinidade?


 

 



Sobre o Autor

Não sou cineasta, mas gosto de criticar o trabalho dos outros rsrsrs

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