LINK para o filme PAHOKEE gentilmente disponibilizado pela diretora Ivete Lucas pelo período de 10 dias a partir de hoje, dia 03/março de 2020. Aproveite!
https://vimeo.com/357866430/fe801c3312
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O objetivo desse artigo é apenas comparar umas poucas imagens da série Euphoria com o documentário Pahokee.
Euphoria é uma série da HBO criada por Sam Levinson e que se pretende um relato realista da juventude americana enquanto Pahokee é um documentário produzido por Ivete Lucas e Patrick Bresnan sobre uma pequena cidade no interior da Flórida que busca retratar a vida de alguns jovens estudantes locais.
Ambos tem o mesmo foco: a juventude americana e seus dramas. Os ambientes são, porém, muito diferentes: Euphoria se passa num subúrbio de classe média alta, suponho, enquanto Pahokee é uma cidade interiorana. As duas locações dão a impressão de mundos à parte, como se estivessem em locais virtualmente isolados, ainda que conectados ao mundo da internet e seus dramas subjacentes.
Euphoria mostra uma juventude dionisíaca e abonada, enquanto Pahokee retrata jovens às voltas com dificuldades financeiras. Os dramas culturais modernos que a série da HBO quer desenhar são todos bastante atuais, é verdade. Dizem respeito justamente ao bombardeio de questões midiáticas e chocantes, notadamente, sexo, drogas e violência. A impressão que tenho é que, com todo seu charme e brilhantina, Euphoria é sintoma e causa de uma determinada problematização as vezes glamourizadora das questões que explora, comercialmente inclusive.
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Evidentemente assuntos como gênero, masculinidade, sexualidade, moralismo e mesmo programação de vida são muito relevantes na perspectiva que a série levanta. Mas são todos abordadas dentro de um enredo que eu chamaria de quase aristotélico-shakesperiano: como numa novela das 8 somos levados a odiar certos personagens e torcer por outros numa cadeia de eventos que segue o rumo de um conto de Agatha Christie, com direito inclusive àquela didática narração off. Talvez justamente por esse formato tão classicamente bem sucedido a série prenda a atenção.
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Algumas críticas que o show provocou foram realmente iradas: grupos de pais chegaram a pedir o cancelamento da série por conta de imagens que eles, no seu moralismo podre (redundante, todo moralismo é podre) consideraram chocantes, como aquela do vestiário com vários nus frontais masculinos, vários pênis, diga-se. Além disso a série poderia padecer de comparação com 13 Reasons Why (série Netflix) por exemplo, acusada de ser apologia ao suicídio, outra afronta aos moralistas. No caso de Euphoria a temática do abuso de drogas poderia ser o filão para essas críticas, mas, inclusive aqui as coisas se encolhem rapidamente e nossa protagonista uma junker viciada contemporânea, interpretada por Zendaya, logo se converte, em poucos capítulos, numa adolescente construtiva e edificante, embora sustente alguma aura anti-heroína.
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Ritmo de videoclipe, qualidade impressionante de imagens, câmeras de superprodução, trilha sonora exuberante entre o clássico e o trap-pop, cores e luzes. Euphoria faz jus ao nome inclusive nos momentos “american pie” e no retrato dos micros sucessos juvenis de uma sociedade do espetáculo. É preciso ressaltar que algumas das denúncias da série são realmente impressionantes e merecem ser pensadas com cuidado, como a questão do bullying, da pressão pelo sucesso, da transsexualidade juvenil, e etc.
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Pahokee, por seu lado, em suas quase duas horas de duração poderia ser encarada como uma espécie de antítese do mega sucesso da HBO. É um filme que deveria ser visto antes ou logo após a série. Sua perspectiva é, essa sim, realista, documental, ainda que se possa dizer que documentários também são narrativas retoricamente montadas, do mesmo modo que a ficção.
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A cidade localiza-se no interior da Flórida e retrata uma juventude negra e latina, com questões muito menos espetaculares, mas nem por isso menos interessantes, dramaturgicamente inclusive.
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Ao contrário do subúrbio de Euphoria, mostrado predominantemente a noite, com uma curiosa mistura de segurança e suspense, a pequena cidade nos é mostrada às claras, com seus desfiles, suas ruas e ginásios.
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As questões de um documentário, evidentemente, são mais diretas, e nesse caso preservam uma espécie de foco mais definido: qual o futuro dessa juventude? Serão atletas bem sucedidos? Terão os melhores empregos? Conseguirão saúde emocional?
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Bem podem ser as mesmas questões da série, mas aqui elas possuem uma espécie de imanência sutil e ainda assim poderosa. Pahokee é um retrato de uma juventude americana que pode não ser, afinal, uma exceção. Euphoria talvez seja.
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